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Celular ajuda a lembrar mas pode "viciar" cognição, dizem cientistas

Estudo da Universidade College London sobre efeitos do celular na memória é questionado por especialistas brasileiros ouvidos por Byte



Smartphones favorecem o “transbordamento cognitivo”: quando o conteúdo de alto valor é armazenado, a memória interna é realocada para o de baixo valor
Foto: Pexels / 9143 images / Pixabay

Um estudo britânico da Universidade College London, publicado na revista da Associação Americana de Psicologia, em agosto, concluiu que o uso de aparelhos para armazenar informações, como smartphones, aumentaria nossas habilidades de memória para lembrar de tarefas diversas. Entretanto, especialistas brasileiros ouvidos por Byte trataram a descoberta com ceticismo.

A lógica é que ao transferir o lembrete para um objeto externo, a nossa memória interna continua a ser usada, mas para outras informações. É o que os cientistas chamam de “transbordamento cognitivo”: quando o conteúdo de alto valor é armazenado, a memória interna é realocada para o de baixo valor.

O estudo contou com 158 voluntários de idades entre 18 e 71 anos, que teriam que fazer um jogo da memória em um computador de tela sensível ao toque. Os participantes viam até 12 círculos na tela e tinham de se lembrar de arrastar alguns para a esquerda e outros para a direita – um dos lados era “alto valor” e outro era “baixo valor”.

A primeira constatação foi de que as pessoas usam os smartphones para anotar informações de alto valor associado. Os lembretes ajudaram as pessoas a lembrarem das tarefas principais em 18%. Já a memória para as tarefas consideradas de baixo valor foi ainda maior: 27%.

Os estudiosos ouvidos pela reportagem acham o estudo válido, mas também veem alguma confusão entre os diferentes tipos de memória e a forma como nós as processamos. Além disso, também faltou abordar os efeitos negativos do excesso de uso dos celulares na nossa cognição, que pode ficar "mal acostumada" a depender dos aparelhos.

Ganhos de um lado, perdas em outro
De acordo com Álvaro Machado Dias, neurocientista professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), nosso cérebro possui uma capacidade limitada de armazenamento de informações. Nesse sentido, existe um efeito positivo dos celulares ou quaisquer aparelhos ao amplificarem a nossa capacidade cognitiva.

Mas ele lembra: “O paper [artigo] não menciona nada sobre demência cognitiva. A ideia é que a gente está usando cada vez mais gadgets, não importa quais sejam, e quanto mais a gente os utiliza, de fato, no momento da ação, a gente está desempenhando as nossas atividades cognitivas de maneira esquecida”.

Como exemplo, Dias fala sobre o GPS. Em vez de decorarmos as coordenadas para alcançar um caminho, temos um aparelho que nos diz, de imediato, o que devemos fazer. E isso nos exige pouco esforço cognitivo.



Smartphones, no estudo da Universidade College London, são objetos externos para lembrar de algo, como cadernos
Foto: inspirexpressmiami / 19 images / Pixabay

“A mensagem principal que fica é que, como os dados mais importantes já estão armazenados, a gente despende do nosso tempo pensando em atividades menos importantes. Vai no sentido contrário desse otimismo todo: é a de que se você anota tudo no caderninho ou no smartphone, vai lembrar das coisas secundárias, e aí a sua vida cognitiva pode ficar marcada por essas coisas”, afirma o pesquisador.

Para a psicóloga e pesquisadora de neurociência da Universidade Mackenzie Leticia Yumi Morello, o artigo aborda especificamente a memória prospectiva, que é a habilidade de lembrar das coisas que ainda vão acontecer (comprar frios, receber visitas, pagar contas); e não há indício de que ela seja melhorada com o uso de smartphones ou blocos de notas.

"O que melhora é o nosso desempenho! Pois anotando coisas mais importantes, diminuímos a chance de falhar nas coisas menos importantes em decorrência da limitação da nossa memória”, defende Morello.

Ou seja: não é que a nossa memória é melhorada com esses eletrônicos. Na verdade, eles liberam um "espaço" para lembrar de outras coisas, como se o nosso cérebro fosse uma espécie de cartão de memória ou pen drive.

A ideia da demência cognitiva ou amnésia digital não é algo que o estudo rebate, segundo Morello. “Essa teoria propõe que, justamente por anotarmos coisas em dispositivos e acreditar que eles vão nos notificar a respeito delas, não nos preocupamos em guardá-las em nossa memória e, assim, não a exercitamos”, comenta.

No próprio experimento 3 do estudo, os autores dizem que, uma vez que as pessoas perdem o acesso aos aparelhos de memória externa, elas não se lembram mais das coisas que haviam anotado, e se lembram daquelas que se esforçaram para guardar “de cabeça”.



Amnésia digital se dá porque se anotamos tudo em aparelhos, não nos preocupamos em guardar na nossa memória e, assim, não a "exercitamos"
Foto: Raman Oza / Pixabay

O que de fato, então, melhora a memória?
Segundo o neurologista Ivan Okamoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, estudos recentes têm mostrado que os pilares para uma boa memória são atividade física, atividade intelectual, alimentação, controle de diabetes e colesterol e relacionamento social.

Dentro disso ainda há especificidades: “A melhor dieta é a do mediterrâneo, atividade física aeróbica é melhor que a anaeróbica, fatores relacionados ao nível de colesterol e diabetes também estão associados, pressão arterial, entre outros fatores”, comenta Okamoto.

Ele diz que em relação ao tipo de atividade intelectual praticada, ele diz que a melhor que você pode fazer é a que você gosta. Pode ser palavras-cruzadas, sudoku, bingo ou qualquer outra, desde que exercite as capacidades intelectuais.

(Fonte: Ivana Fontes Redação Byte) - 19/09/2022
Por que Apple tirou carregador da caixa do iPhone

Apple cita estímulo ao consumo sustentável e preocupação com o ambiente como justificativas para não enviar o acessório junto do iPhone

O Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou nesta terça-feira (6) a suspensão da venda, no Brasil, de celulares iPhone desacompanhados do carregador de bateria. A decisão também determinou multa de R$ 12 milhões à fabricante Apple Computer Brasil e cassação do registro na Anatel dos aparelhos a partir do modelo iPhone 12.

A determinação é resultado de um processo instaurado em dezembro de 2021 pela Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), que alegou que a Apple estaria promovendo venda casada, ou seja, venda de um produto incompleto, obrigando o consumidor a adquirir outro produto para poder usar o primeiro.

A prática de retirar o carregador de energia do iPhone começou em outubro de 2020. A justifficativa da empresa seria ambiental, pregando um estímulo ao consumo sustentável. No evento de lançamento do iPhone 12 (primeiro modelo a vir sem fones de ouvido ou carregadores na caixa), a Apple argumentou que a decisão contribuiria para a redução de emissão de carbono.

“Há mais de 2 bilhões de adaptadores Apple no mundo, sem contar os bilhões de adaptadores de terceiros”, disse, na ocasião, Lisa Jackson, vice-presidente de meio ambiente, política e iniciativas sociais da Apple. Em resumo, a empresa compreendia que muitos de seus consumidores que acompanhavam a linha iPhone já tinham outros carregadores em casa e entregar novos de graça para eles só aumentaria o lixo eletrônico.

Jackson também afirmou que, ao reduzir o número de itens enviados na caixa, a embalagem seria menor, o que também seria uma medida em prol da sustentabilidade. “Somando tudo, as mudanças que fizemos para o iPhone 12 reduziram mais de 2 milhões de toneladas métricas de carbono anualmente. É como remover 450 mil carros das estradas todo ano”, disse Jackson.

No entanto, especialistas consideram que o impacto dessa medida é muito pequeno, dado o tamanho do problema do lixo eletrônico. Além disso, a decisão da Apple pode até mesmo ter o efeito contrário ao desejado: as pessoas que não têm carregadores compatíveis com o aparelho adquirido precisarão comprar o acessório separadamente, o que implica mais embalagens e transporte à parte, prejudicando o ambiente.

A questão dos carregadores com Samsung, Motorola e Xiaomi
Desde a estreia da linha Galaxy S21, a Samsung não envia carregadores nas caixas dos celulares lançados em diversos países. A empresa anunciou, porém, que os novos dobráveis da marca, Galaxy Z Fold 4 e Galaxy Z Flip 4, serão entregues, no Brasil, com os carregadores. De acordo com o comunicado da companhia, somente os aparelhos da série Galaxy Z virão com o acessório, ao contrário dos modelos das demais linhas.

A Motorola vinha adotando a política de enviar o carregador na caixa; como exemplo, lançou neste ano o Moto E32, modelo básico que traz o acessório. Por outro lado, isso pode mudar com o Motorola Edge 2022, o primeiro a não trazer o carregador. Novamente a justificativa foi a sustentabilidade.

Já a Xiaomi anunciou que o novo aparelho da linha Redmi, o Redmi Note 11SE, seguirá como os últimos lançamentos da Apple, enviando somente o cabo (nesse caso, um USB-C), sem a fonte do carregador.

(Fonte: Amanda Andrade) - 14/09/2022
LG apresenta TV OLED com painel flexível que dobra ao aperto de um botão

Voltado para entretenimento, a LG OLED Flex LX3 traz display 4K de 42 polegadas que pode ter curvatura de até 900 R

A LG revelou nesta quarta-feira (31) a primeira TV OLED com painel flexível da marca: a LG OLED Flex LX3. Equipada com a mais recente tecnologia da empresa sul-coreana, a TV de 42 polegadas focada em entretenimento pode atuar como uma tela completamente plana ou como um display com curvatura de até 900 R.


Foto: Divulgação/LG / Canaltech

Conforme a fabricante, a LG OLED Flex LX3 visa oferecer uma verdadeira experiência completa para entretenimento. A tela curva se propõe a entregar maior imersão em jogos, enquanto o display plano possibilita assistir a filmes e séries com mais conforto visual.

O painel flexível da TV tem duas predefinições de curva, mas os usuários podem escolher manualmente entre os 20 níveis de curvatura, dando uma maior liberdade de escolha para agradar aos mais variados perfis. Sem a necessidade de ajustes manuais, um botão dedicado no controle remoto permite alternar entre o modo plano e curvo.



Exemplo da tela flexivel da LG OLED Flex LX3 em ação (Imagem: Divulgação/LG)
Foto: Canaltech

Grande foco em jogos
A LG OLED Flex LX3 tem os gamers como público-alvo e, por esse motivo, possui vários recursos que melhoram a experiência em jogos no PC ou consoles. Com porta HDMI 2.1, a TV com resolução 4K oferece taxa de atualização variável (VRR) de até 120 Hz e modo automático de baixa latência.

Para os PC gamers, outro destaque é o suporte às tecnologias G-Sync da Nvidia e FreeSync da AMD. Ambos os recursos sincronizam as taxas de quadros da placa de vídeo com a exibição da tela, evitando congelamento de frames e outras inconsistências em conteúdo mais dinâmico.

Por se tratar de um amplo painel de 42 polegadas, a LG OLED Flex LX3 tem modos especiais para jogos que "reduz" o tamanho do display para 27 ou 32 polegadas. Ao fazer essa mudança, a pessoa pode jogar títulos de Real Time Strategy (RTS) ou First-Person Shooter (FPS) sem precisar usar todo o espaço da tela.

O modelo ainda traz a função Switching Hub, que possibilita conectar periféricos, como mouse e teclado, nas portas USB da TV e usá-los em um PC conectado por cabo HDMI. Então, ao pressionar um botão na lateral da tela, o usuário consegue controlar outro computador conectado ao aparelho sem precisar mudar os acessórios de estação.



Mecanismo na parte traseira ajuda a definir a curvatura do painel da LG OLED Flex LX3 (Imagem: Divulgação/LG)
Foto: Canaltech

Alto nível de qualidade de imagem e som
Apesar do formato flexível, a LG OLED Flex LX3 usa a tecnologia OLED Evo. Assim, ela oferece o mesmo nível de qualidade de imagem das TVs "comuns" da marca, como cores mais precisas, níveis mais profundos de preto e maior contraste.

Para mais, o processador Alpha 9 Gen 5 trabalha com algoritmos que geram imagens mais realistas, segundo a LG. Bem como, o televisor oferece maior conforto para os olhos durante longas sessões devido aos diversos certificados de redução de brilho e cintilação.

Garantindo maior imersão sonora em jogos e filmes, a LG OLED Flex LX3 tem dois alto-falantes frontais com potência de 40 W. Além disso, o suporte integrado ao Dolby Atmos promete "maior pureza de som, profundidade e vivacidade".

Apresentação na IFA 2022
Apesar de ter revelado vários detalhes, a marca ainda não divulgou quando a LG OLED Flex LX3 chegará ao mercado e o preço de lançamento. Contudo, a TV flexível estará em exposição na IFA 2022, evento de tecnologia e bens de consumo que ocorre entre os dias 2 e 6 de setembro em Berlim, na Alemanha.

(Fonte: Lupa Charleaux LG, The Verge) - 14/09/2022
WhatsApp Business vai permitir diferentes níveis de acesso por aparelho

O recurso permitirá que as empresas definam qual funcionário será encarregado por um bate-papo, dando poderes de gerenciamento diferentes para cada aparelho

O WhatsApp trabalha para permitir que uma conta empresarial gerencie as conversas de todos os dispositivos vinculados. O recurso facilitaria o acompanhamento dos bate-papos por uma espécie de "conta mestre" capaz de monitorar cada celular ou computador cadastrado.

O site especializado WABetaInfo foi quem encontrou a novidade em uma versão beta do WhatsApp Business. Segundo o print de tela compartilhado, será possível definir o nível de acesso de cada conta vinculada, colocando determinadas conversas como exclusiva de um aparelho.

Para atribuir uma conversa, o administrador terá uma lista com todos os dispositivos conectados. Cada bate-papo atribuído será destacado no dispositivo selecionado para que o usuário saiba que ele é o responsável por gerir a conversa.

O usuário será notificado quando for adicionado à conta comercial. Ao que parece, o recurso permitirá apenas que aquela conta possa tomar certas medidas quanto a um bate-papo, como arquivar ou limpar o conteúdo, mas não impedirá que outras tenham acesso de leitura, download de mídias ou até de escrita das mensagens.

Reforço nas assinaturas do Zap
Esta mudança chega como um complemento para o WhatsApp Premium, um serviço de assinatura voltado para empresas que oferecerá benefícios adicionais. Usuários do plano poderão gerar um link comercial personalizado e vincular até 10 dispositivos a um número de telefone.

A associação de contas a chats deve ser um recurso gratuito e nativo do WhatsApp Business, portanto não funcionará em contas padrões do mensageiro. A visualização ocorreu na beta para iOS, mas é provável que a versão para Android e Desktop/Web sejam contempladas futuramente.

Em junho, o mensageiro começou a liberar um gerenciador de anúncios para empresas. A ferramenta ainda está em construção, mas possibilitará criar e editar propagandas para rodar no app de mensagens instantâneas. Um mês antes, foi visualizado um recurso para adição de fotos de capa, usada para customizar perfis corporativos.

(Fonte: WABetaInfo Canaltech) - 06/09/2022
Blob: a extraordinária criatura que nos obriga a questionar se somos a espécie mais inteligente

Trata-se de um organismo que pode calcular e navegar em sistemas complexos com incrível eficiência e objetividade. Desde 2018, eles são "professores convidados não humanos" em uma universidade em Massachusetts.

Que tal começarmos com um teste rápido.

Você está perdido em uma enorme loja que parece um labirinto e não sabe como sair dela. A quem você pede ajuda?

Pergunta 2: Você está redigindo um documento de política para assessorar o governo dos Estados Unidos sobre como governar suas fronteiras nacionais. Onde você procura conselhos?

Última pergunta: Você precisa desenhar um mapa da teia cósmica, como você faz isso?

Existem, é claro, várias respostas para essas perguntas, mas em todos os casos você poderia ser inspirado por um organismo: o bolor limoso, que também pode ser conhecido por muitos nomes diferentes.

Sendo cientificamente preciso ele não é exatamente um bolor...

"O bolor é uma divisão do mundo dos fungos, mas o bolor limoso é na verdade um protista (não é um animal, planta ou fungo) - é essencialmente uma célula gigante", diz o biólogo Merlin Sheldrake, autor do livro Entangled Life, que aborda o tema.

O bolor limoso é um plasmódio, ou seja, uma célula que contém muitos núcleos. Então, ao contrário da maioria dos organismos unicelulares, você não precisa de um microscópio para vê-lo.

E essa única célula é capaz de tecer vastas redes exploratórias feitas de tentáculos semelhantes a veias que podem se estender até um metro.

A estrela entre todos
Existem cerca de 900 espécies de bolor limoso, mas vamos nos concentrar no Physarum Polycephalum, que literalmente quer dizer "bolor de várias cabeças". Ele também é conhecido como "blob" (referindo-se ao clássico filme de 1958 The Blob).



Clássico filme The Blob serviu de inspiração para nomear popularmente o bolor limoso
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Por que os cientistas do mundo estão tão empolgados com essa espécie em particular?

"Ele se tornou um organismo emblemático de resolução de problemas. É fácil de cultivar e cresce rápido, o que é uma das razões pelas quais tem sido tão bem estudado", explica Sheldrake.

"Mas acima de tudo, seus comportamentos são extraordinários."

Ele pode fazer todos os tipos de coisas.

"Explorar, resolver problemas, adaptar-se a novas situações, tomar decisões entre cursos alternativos de ação - e tudo sem cérebro!"

Como ele faz isso?
"O Physarum é sensível ao gradiente químico, então pode crescer em direção a sinais químicos ou ficar longe dos pouco atraentes".

"Primeiro, ele tende a crescer em todas as direções ao mesmo tempo. E então, quando encontra comida, ele se retrai e forma as conexões entre suas fontes de alimento."

É um pouco como se você estivesse no deserto e precisasse procurar água. Você tem que escolher apenas uma direção para caminhar.

O Physarum Polycephalum pode "andar" em todas as direções ao mesmo tempo até encontrar alimentos; depois encolhe os ramos que não encontraram nada e fortalece os que encontraram, através de uma série de contrações químicas.



Em um experimento memorável, "blob" aprendeu a "ignorar" os químicos colocados para bloquear seu caminho para a comida. Esse comportamento sugere uma forma primitiva de memória, e ninguém sabe como ela realiza essa façanha
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

"Nunca deixa de me surpreender que eles possam usar essas contrações para fazer esse tipo de cálculo analógico, para integrar informações sem precisar de um cérebro. Que sua coordenação ocorra em todos os lugares ao mesmo tempo e em nenhum lugar em particular."

Uma rede ferroviária no Japão
Tudo isso significa que o "blob" é capaz, em termos humanos, de resolver problemas, fazer redes, navegar em sistemas e labirintos com uma eficiência incrível.

Há um estudo japonês icônico de 2010, quando o Physarum traçou a rede ferroviária da Grande Tóquio, e para isso precisou somente de uma pequena placa de Petri e um punhado de aveia.

Segundo os estudos, o Physarum adora aveia, é a sua comida preferida.

"Então, eles modelaram a área da Grande Tóquio colocando copos de aveia nos centros urbanos e depois o lançaram. Ao longo de algumas horas, havia formado uma rede eficiente que conectava os copos de aveia, e essa rede parecia muito com a rede de metrô existente na área da Grande Tóquio", detalha o estudo.

O Physarum havia estabelecido, em questão de horas, uma rede eficaz que levou décadas para ser feita na vida real.


Adaptação da ilustração do estudo do professor Toshiyuki Nakagaki sobre a criação e otimização de redes por parte do P. polycephalum.
Foto: Tim Tim / Wikipedia / BBC News Brasil

O "blob" no universo
Após o estudo de Tóquio, experimentos com Physarum Polycephalum decolaram em todo o mundo, para projetar novas redes de transporte urbano ou encontrar rotas eficazes de evacuação de incêndio, até mesmo mapear a teia cósmica... o que parece estranho, mas ocorreu.

Uma equipe de cientistas fez uma simulação digital traçando as localizações das 37.000 galáxias conhecidas.

Então, um algoritmo inspirado no "blob", adaptado da placa de Petri para trabalhar em três dimensões, foi liberado em um banquete virtual onde as galáxias estavam representadas por pilhas de copos de aveia digital, por assim dizer.

A partir daí, o algoritmo produziu um mapa digital em 3D da teia cósmica subjacente, visualizando os fios em grande parte invisíveis de matéria que os astrofísicos acreditam que unem as galáxias do universo.

Eles compararam com dados do Telescópio Espacial Hubble, que detecta traços da teia cósmica, e descobriram que tudo combinava em grande parte.

Portanto, parece haver uma estranha semelhança entre as duas redes, a rede de "blob" formada pela evolução biológica e as de estruturas no cosmos criadas pela força primordial da gravidade.



Os astronômos apelaram à criatividade ao tentar rastrear a indescrítivel teia cósmica, a coluna vertebral do cosmos. As imagens mostram algumas das galáxias das quais o "blob" se "alimentou" (representadas em amarelo) e os fios de conexão da rede cósmica (roxo) sobrepostos
Foto: NASA, ESA y J. Burchett y O. Elek (UC Santa Cruz) / BBC News Brasil

Os "blobs" acadêmicos
Vamos voltar para a dura realidade daquele pequeno ponto azul no espaço que é o nosso mundo.

O Physarum também pode nos ajudar com problemas que vão além do mapeamento e da criação de redes, como para coisas humanas mais complexas, como formulação de políticas e governança.

"De certa forma, os Physarum são economistas, em termos de alcançar um ótimo universo", diz o filósofo experimental Jonathon Keats.

Em 2018, ele foi ao Hampshire College, em Massachusetts, EUA, com uma ideia.

"Propus que os "blobs" fossem nomeados como professores visitantes, com a ideia de ter um grupo desses especialistas no campus para refletir sobre alguns dos problemas mais desafiadores do mundo."

Foi o primeiro programa acadêmico do mundo para uma espécie não humana e foi chamado de Consórcio Plasmodium.



Página de universidade americana tem área dedicada ao consórcio
Foto: BBC News Brasil
Os polycephalies de Physarum se tornaram estudiosos, com direito a escritório.

"Não tem janelas, mas os "blobs" não gostam muito de luz, então do ponto de vista deles foi bom, e logo que eles se instalaram lá, pudemos começar."

Eles modelaram os problemas humanos de maneira que os blobs pudessem "entendê-los" para obter sua perspectiva imparcial.

"Os Physarum são superorganismos: eles são um apesar de serem muitos. Portanto, eles são mais objetivos do que nós quando se trata de assuntos humanos."

Eles começaram com as questões usuais de rede e mapeamento, distribuição e transporte, antes de passar para algumas preocupações políticas maiores, "desde políticas de drogas até questões de nosso uso de recursos", observa Keats.

O muro de Trump
Talvez os experimentos mais polêmicos tenham sido aqueles que exploraram a política de fronteira internacional.

"Criamos um mundo simplificado, que é realmente o que qualquer um faz quando está criando qualquer tipo de modelo (os economistas fazem isso o tempo todo)."

"O que fizemos foi pegar uma das condições mais fundamentais: um lugar tem alguma coisa, outro lugar tem outra coisa, e cada lugar quer proteger o que tem contra o outro."



O "blob" com seu prato preferido: aveia
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

Eles usaram dois recursos essenciais para os "blobs", proteína e açúcar, e os espalharam em uma placa de Petri, cada um em um lado oposto, e tentaram com uma parede entre eles e também sem ela, deixando Physarum descobrir o que fazer com esses recursos.

"Eles não apenas sobreviveram, mas prosperaram no caso de não haver muro e floresceram mais na área de fronteira", explica o pesquisador.

"Então escrevemos uma carta para Kirstjen Nielsen, que era a Secretária de Segurança Nacional nos EUA na época, e também enviamos para as Nações Unidas e muitos outros órgãos governamentais, dizendo a eles que as fronteiras não são uma boa ideia e que devemos superar o medo para reconhecer como ter fronteiras abertas beneficia a todos."

Absurdo?
É claro que esses problemas internacionais multifacetados não podem ser reduzidos a algumas poucas placas de Petri.

Mas o ponto é que esses experimentos são deliberadamente exagerados para nos desafiar a pensar de novas maneiras.

"O consórcio Plasmodium é, em certo sentido, absurdo. As pessoas riem quando ouvem que os "blobs" montaram um grupo de especialistas em colaboração com humanos em uma universidade nos Estados Unidos porque simplesmente não é assim que as coisas são feitas."

Mas acho que também há algo muito sério por trás disso. O Physarum têm uma inteligência excepcional, então precisamos incorporar algumas das ideias que obtemos ao observar como eles se comportam, pensando em nós mesmos de maneiras que não tínhamos feito antes", declara o pesquisador.

Esse é o aspecto mais atraente de tudo isso. Que um organismo sem cérebro pode nos ensinar a ser mais objetivos, a pensar mais a longo prazo, e que pode abordar um problema de uma maneira que simplesmente não pensaríamos.

E no caso de alguns enigmas, como mapear o cosmos, pode ser mais rápido do que a gente.

Tudo isso põe em dúvida nossas definições humanas de inteligência.



Do fundo de nossas hierarquias, Physarum é considerado um desafio que tem sido cada vez mais estudado
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

"Nossa visão hierárquica da inteligência com humanos no topo da Grande Pirâmide revela o narcisismo de nossa espécie", afirma Sheldrake.

"Pensar sobre o mundo sem usar a nós mesmos como o padrão pelo qual todos os outros seres vivos devem ser julgados pode ajudar a amortecer algumas das hierarquias que sustentam o pensamento moderno", completa.

Essas hierarquias significam que nós, Homo sapiens, temos uma opinião incrivelmente alta de nós mesmos, e isso tem nos ajudado a chegar longe.

Mas talvez isso já tenha cumprido o seu propósito.

"Acho que nós, humanos, temos a necessidade de acreditar em um tipo de superioridade. Essa alta autoestima tem sido o motor da dominação. Temos sido capazes de fazer mais e isso é um resultado de acreditar que podemos mais", aponta Keats. .

"Mas estamos chegando a um limite, ao ponto em que essa forma de pensar está piorando o mundo para nós e para outras espécies. Então é hora de repensar."

E um catalisador para esse repensar é o Physarum Polycephalum, um protista de uma única célula sem cérebro que fica na parte inferior dessa hierarquia, de onde pode abalar todo o sistema.

* Este artigo é baseado no episódio "Slime mould and Problem solving" da série NatureBang da BBC.

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